terça-feira, 19 de novembro de 2013

Morte e Vida Severina em Desenho Animado

Lembro-me que um de meus primeiros contatos com a poesia foi no anos iniciais do fundamental. Confesso que a poesia não despertava muito minha atenção. Assim continuou sendo até os anos finais do fundamental e início do ensino médio, onde conheci algumas poesias que até me despertaram algumas sensações, porém nada de grandioso; não que estas não fossem grandes obras, mas eu não estava pronto para absorver a carga que uma poesia pode nos transportar. Comecei a trabalhar aos 13 anos com ritmo de empolgação muito alto, passaram-se os anos e minha empolgação transformou-se em desanimo. O motivo eu não sabia, nem compreendia ao certo o processo no qual eu estava inserido. Até que aos 17 anos eu conheci a poesia de João Cabral de Melo Neto; a obra era "Morte e vida severina". Lembro-me que a li e a cada estrofe meus olhos margeavam de água enquanto eu era arrebatado por um sentimento de indignação, de pena, de inconformidade e emoção ao descobrir que eu era um "Severino", da "Serra do Costela" magra e ossuda, que morre de velhice sol a sol antes dos trinta, nas emboscadas da vida antes dos vinte e de fome grão a grão de areia que passa por essa ampulheta metafísica chamada vida. E quando olhei pro lado vi tantos "Severinos" com as mesmas cabeças grandes se equilibrando sobre os corpos magros e frágeis, porém fortes como sempre, sobrevivendo e desta forma afrontando a morte que espreita do outro lado da cerca, esperando os corpos, de mesma essência e pouca tinta, se entregarem à descrença. João Cabral de Melo Neto me mostrou a vida e alguns motivos pelos quais ela precisa ser vivida, pois como me expresso em uma de minhas poesias, "(...) Vivida pra ser vida, Ser vida como comida, Com idas e vindas, A vida se vê consumida (...)"*. Foi em "Morte e vida severina" que pude perceber o potencial de uma poesia e pude compreender porque os versos uma poesia não podem ser substituídos por outra linguagem, ainda que possam se interligar a outras artes. O poeta, dirá Dilthey, é aquele que sem pretensão de dizer a realidade acaba por dizê-la da forma mais íntima e verdadeira, pois todo interno busca expressão no externo.




Morte e Vida Severina em Desenho Animado é uma versão audiovisual da obra prima de João Cabral de Melo Neto, adaptada para os quadrinhos pelo cartuinista Miguel Falcão. Preservando o texto original, a animação 3D dá vida e movimento aos personagens deste auto de natal pernambucano, publicado originalmente em 1956.



Em preto e branco, fiel à aspereza do texto e aos traços dos quadrinhos, a animação narra a dura caminhada de Severino, um retirante nordestino, que migra do sertão para o litoral pernambucano em busca de uma vida melhor.

TV Escola

Coordenação Geral de Produção
SUPERVISÃO GERAL DO PROJETO
Érico Monnerat

Direção Geral da TV Escola
Érico da Silveira    


* SILVA, M.A. Pra não remeter aos nomes. in: Comunidade dos Pensadores Livres. Disponível em: <http://ospensadoreslivres.blogspot.com.br/2012/10/pra-nao-remeter-aos-nomes.html> Acessado em: 19 Nov. 2013.

Morte e vida severina (animação baseada na obra de João Cabral de Melo Neto). In: YouTube.
Postado em: 02 Out. 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_gGnN4It8Dc> Acessado em: 08 Set. 2014.