Por várias vezes já me peguei imerso em pensamentos, refletindo acerca de como as pessoas percebem, pensam ou queriam que fosse o mundo. Não pretendo fazer aqui uma abordagem do sistema desenvolvido por Hume, Kant, ou tantos outros filósofos patenteados, mas apenas falar do que as vezes perpassa meus pensamentos... uma conversa, nos moldes daquelas que temos quando nos sentamos com um amigo na borda da calçada e olhando as enigmáticas estrelas que compõem o céu, perpassamos a noite conversando sobre possibilidades e verossimilhanças. Mas retomando... vejo o mundo de possibilidades que crio em pensamentos; "Como é o mundo pra mim?", "O que é o mundo pra mim?", "Como poderia ser o mundo?", "Como pode ser o mundo?"... entre tantas outras questões. Desço de minha 'bike' abro os olhos e vejo o mundo e os olhos da alma deixam de buscar a perfeição das Ideias e nesta confusão tento me encontrar. Nesta viagem planar tento desempenhar o papel do demiurgo, contemplando as Ideias e com a matéria que me é disponível modelando este mundo físico e sensível. Porém na figura deste artesão, que contempla o Ideal e tenta reproduzi-lo, acabamos sofrendo pela falta de lugar, a falta de apoio para os pés, semelhante ao qual Descartes reclama ser necessário à Arquimedes, para que este sustente o mundo em suas costas; é como poder 'olhar' o Inteligível e modelar o Sensível, porém estar no espaço vazio, que na condição desse intermediador acabamos como o pedreiro (artesão) que levanta um alto edifício e não pode desfrutá-lo, mencionado por Zé Ramalho na canção "Cidadão" e, por outro lado, o músico profissional que acessa a ideia e esteticamente a representa, mas acaba não há vivendo, pois esta torna para si uma mercadoria. Talvez, seja está a alegria e o sofrimento do filósofo, idealizar um mundo melhor, porém não conseguir acessá-lo, mas ainda tendo uma forte convicção de que não alcançará o seu ideal, se esforça ao máximo para torná-lo o mais verossimilhante possível. Em certa medida, acredito eu, cada ser humano tem um pouco deste filósofo dentro de si, ainda que falo aqui de modo alegórico, pois na busca de cada um à seus interesses particulares praticamos aquilo que acreditamos ser o mais próximo de um ideal, embora muitas vezes nos afastamos em vez de nos aproximarmos; isto na Ética, na Política, na Estética, na Teologia e assim por diante... mesmo que a filosofia não tenha pretensões particulares como a ciência. Talvez seja esta uma das questões que o filósofo ou a filósofa irá se deparar... a luta com seu íntimo, a relação com o seu externo e como diria Dilthey a constante luta com o enigma da vida.
Marcelo Silva.
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