O que aconteceria se um
grupo de jovens amigos misturassem literatura, música, cinema, fotografia,
moda, sexo e drogas...?
Se você não consegue
imaginar o resultado e gostaria de ver no que isso daria, sem correr maiores
riscos; há uma forma bem prática e prazerosa de saber o descobrir sem no final
ter que dizer: “man, I am beat”.
Estou falando da
literatura beat, que tem início nos na América do Norte e acaba dando origem a
um movimento que despertou a atenção de várias gerações contemporâneas e
futuras em grande parte do mundo.
A amizade de Jack
Kerouac, William Burroughs, Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinghetti, Gregory
Corso, Michael McClure, Gary Snyder, Clellon Holmes, entre outros, mostrou a
presença de uma juventude que decidiu viver a vida no limite entre a virtude e
a perversão, a arte e a bandidagem, de forma desafiadora e sagaz.
A “beat generation”, tirou o sono de muitos moralistas da época, ao
ponto de que até o The New York Times
“em tom severo e paternal, acusou Kerouac de estar ‘dando fundamento à
explosiva juventude que, de um canto a outro do país, se agrupa em torno de jukeboxes e se envolve em arruaças sem
motivo em plena madrugada’” (KEROUAC, 2009, p. 9). Em tom de censura,
sensacionalista ou não, o NY Times
não estava de todo errado, porém tais notícias apenas despertavam mais e mais a
vitalidade daquela juventude sedenta por aventuras.
A “geração Beat” viveu a literatura, quebrou barreiras, rompeu com os
padrões, mesclou estilos de escritas, de visão
de mundo, estética, esculachou a moralidade
Tudo isso alimentou a criação
literária. E não em prosa, no ciclo de narrativas de Kerouac, relatos
estilizados de aventuras com seus amigos, ou em Go, de Clellon Holmes. Também na poesia de Ginsberg, por vezes de
modo dramático: é rememoração da perda em poemas como “Fragmento 1955”, de Reality Sandwiches (Sanduíches de realidade)[i].
Das amizades resultou a
criação coletiva, nisso apresentando semelhança com o surrealismo. Criavam
juntos, como nos cut-up, os
textos-colagem de Burroughs em parceria com Bryon Gisin e Gregory Corso, que
resultaram em Minutes to Go. Ou em And the Hippos Were Boiled in their Thanks (E
os hipopótamos ferveram em seus tanques), narrativa policial de Bourroughs e
Kerouac que se perdeu. No poema “Pull my Daisy” (Puxe minha “margarida”) de
Ginsberg, Kerouac e Cassady[ii], que daria título ao filme
de Robert Frank. Copidescavam-se, como na releitura de Kaddish de Ginsberg por Ferlinghetti. Assistiu-se: Ginsberg lendo
páginas de The Town and City (Cidade
pequena, cidade grande)[iii] por cima do ombro de
Kerouac, incentivando-o. (WILLER, 2009, p. 18).
Assim o movimento beat
se construía em meio a bebida, maconha, anfetaminas, morfina, benzedrina,
heroína, LSD, ayauasca, entre outros alucinógenos, o jazz bop, bebop em
jam-sessions e suas muitas expressões particulares, tais como: “Beat”,
“Fuck Ode”, “This is the Beat Generation”, etc. Esta turma viveu as
estradas, a violência, as prisões, o erotismo,
o vício e na maioria das vezes, se não todas, em seu extremo. O apolíneo nietzscheano.
Geração beat (Beat
Generation em inglês) ou
"Movimento beat" é um termo usado tanto para descrever a um grupo de
artistas norte-americanos, principalmente escritores e poetas, que vieram a se
tornar conhecidos no final da década de 1950 e no começo da década de 1960,
quanto ao fenômeno cultural que eles inspiraram (posteriormente chamados ou
confundidos aos beatniks, nome este de origem controversa, considerado por
muitos um termo pejorativo). Estes artistas, levavam vida nômade ou fundavam
comunidades. Foram, desta forma, o embrião do movimento hippie, se confundindo
com este movimento, posteriormente. Muitos remanescentes hippies se
auto-intitulam beatniks e um dos principais porta-vozes pop do movimento
hippie, John Lennon, se inspirou na palavra beat para batizar o seu grupo
musical, The Beatles. Na verdade, a "Beat generation", tal como os
Beatles, o movimento hippie e, antes de todos estes, o Existencialismo, fizeram
parte de um movimento maior, hoje chamado de "contracultura". (GERAÇÃO
BEAT. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.)
A Beat
Generation influenciou artistas como Bob Dylan e até mesmo seu filho Jakob
Dylan, Jim Morrison da The Doors, Neil Young, a banda The Clash, entre vários
outros nomes. Obras como On the Road passou
a ser chamada de a “bíblia Hippie”, a
juventude passou a utilizar camisas xadrez, suéters de gola role, boinas, óculos
escuros e gírias como “I’m beated”, “beat the way”, entre outras.
O presente movimento espontaneamente se tornou um
movimento de contra cultura que logo a cultura tentou abarcar, pela literatura,
pela moda e pela ideologia. Percebe-se a partir do momento em que surge a
expressão “beatnik”, que o próprio Allen Ginsberg se coloca hostilmente contra,
afirmando ser está uma expressão criada pela mídia e se aceita, seria o mesmo
que negar a magnitude da poesia de Kerouac. Em sua entrevista ao New York Time,
Ginsberg, se refere a tal situação como “a obscena palavra beatnik”, fazendo
questão de demonstrar o seu desprezo pelos “beatniks e os poetas beats não
iluminados”, pois para Ginsberg, “eles não teriam sido criados por Kerouac mas
pela industria da comunicação em massa que continua fazer lavagens cerebrais ao
homem.”.
As influências da geração beat vão do catolicismo
ao budismo, da Aufklärung e literaturas
como a de Goethe e Schelling, à filosofia de Schopenhauer e Nietzsche. Uma ânsia
inquietante de pegar a estrada e ver onde vai dar. Desafiar a vida e o acaso.
Negar a materialismo e o apego e ao mesmo ser egoísta a ponto de satisfazer as próprias
vontades. Conhecer as Tristessas da
vida, os tantos bordéis, os marginais e os excluídos, os extremos e a mediocridade,
num mesmo mundo, que como o próprio Kerouac diz, ser o mesmo curral.
A literatura Beat
influenciou muitos outros movimentos, assim como sofreu influências de vários
anteriores, vindo de um período pós-guerra e entrando em nova guerra fria e mesquinha, este se refugiaram na
arte em seu sentido mais amplo e como dizia Jack: “acrescente neblina, neblina
úmida que te deixa faminto, e o pulsar do néon da noite suave, o crepitar dos
saltos altos das beldades, pombas brancas na vitrine de uma mercearia
chinesa...”(KEROUAC, 2009, p.218).
Algumas
indicações de leitura, filme e música:
Indicação de Filme:
Título Original: Howl
Intérpretes: James Franco, Jon Hamm, Mary-Louise Parker
Realização: Jeffrey Friendman, Rob Epstein
Distribuição em Portugual por: Midas Filmes
Gênero: Bibliografia, Drama
Ficha Técnica: Duração 1h30m | Origem: EUA, 2010
Site Oficial: Internacional
Geração Beat - Claudio Willer |
Tristessa - Jack Kerouac |
Indicação de Filme:
Título Original: Howl
Intérpretes: James Franco, Jon Hamm, Mary-Louise Parker
Realização: Jeffrey Friendman, Rob Epstein
Distribuição em Portugual por: Midas Filmes
Gênero: Bibliografia, Drama
Ficha Técnica: Duração 1h30m | Origem: EUA, 2010
Site Oficial: Internacional
Sinopse:
São Francisco, 1957. Uma obra-prima é julgada e esse é um momento decisivo para a contra-cultura americana. O filme recria a vida de Allen Ginsberg e do poema Howl, explorando gêneros e temas que ainda hoje são actuais: a definição de obscenidade, os limites da liberdade de expressão, a natureza da arte.
Indicação de Música:
Banda: The Clash (Participação de Allen Ginsberg).
Musica: Ghetto Defendant.
Album: Combat Rock (1982).
REFERÊNCIAS
BEATNIK. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=28082998>. Acesso em: 27 abr. 2012.
GERAÇÃO BEAT. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Gera%C3%A7%C3%A3o_Beat&oldid=27819823 > Acessado em: 27 abr. 2012.
Banda: The Clash (Participação de Allen Ginsberg).
Musica: Ghetto Defendant.
Album: Combat Rock (1982).
REFERÊNCIAS
BEATNIK. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=28082998>. Acesso em: 27 abr. 2012.
GERAÇÃO BEAT. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Gera%C3%A7%C3%A3o_Beat&oldid=27819823 > Acessado em: 27 abr. 2012.
KEROUAC, Jack. On the road (pé na estrada). Tradução ,
introdução e posfácio de Eduardo Bueno. Porto Alegre: L&PM, 2009.
WILLER, Claudio.
Geração Beat. Porto Alegre:
L&PM, 2009.
[i]19.
Ambos traduzidos na edição já citada de Uivo
e outros poemas (ver nota 4).
[ii]
20. Ginsberg. Collected Poems, 1947 – 1980. Harper & Row, 1984.
[iii]
21. Kerouac, Jack. Cidade pequena, cidade grande. Trad. Edmundo Barreiros.
Porto Alegre: L&PM, 2008.
Definitivamente não sou da geração "Beat".
ResponderExcluirPop correndo forte nas veias aqui. Rsrs...
Mas é interessante conhecer outras perspectivas literárias, cinematográficas e musicais!
Abraço...
www.jovemtolofeliz.com
Muito bacanas as informações, Marcelo. Eu mesmo sei muito pouco sobre essa geração apesar de ouvir falar da contracultura a rodo pelos autores do pós-maio de 68, nem sabia que o nome dos Beatles vinha daí, achei que tivesse alguma coisa a ver com besouros, sei lá, rs.
ResponderExcluirAbraços!!!
Munhoz, a literatura Beat é muito pouco difundida nas universidades... conheço pessoas que passaram pelo curso de letras e não ouviram falar da literatura beat. O motivo eu não sei, pois está sem dúvida foi uma grande influência para o pensamento da época. A obra supracitada, "Geração Beat" do Claudio Willer, pode lhe mostrar a postura dos escritores que compõem os pilares dessa literatura; É uma obra pequena (128 p.), acessível (pouco mais de dez reais; também tenho ela posso lhe emprestar) e muito bem elaborada, por seu contexto histórico (o que pode lhe interessar). Essa galera da beat, é muito louca, tem influência budista, existencialista, católica, da literatura alemã. Tem algo, como eles mesmos dizem, de santo e vagabundo, uma marginalidade poética, passagens que te deixam com raiva e encantado ao mesmo tempo.Vai do roubo de um carro à traição em meio a drogas e orgias.
ResponderExcluirEssa literatura se torna mais encantadora ainda, quando você conhece a história desses poetas e então se constata que realmente eles viveram esse delírio. Lendo o "On The Road" da vontade de jogar uma mochila nas costas e sair pelo mundo em busca dessa impetuosidade... mas o medo fala mais alto, ficarei apenas com a literatura e imaginando como seria.
Não tinha conhecimento que essa mistura de "literatura, música, cinema, fotografia, moda, sexo e drogas.." surge a Geração Beat
ResponderExcluirBom.. por não ter muito conhecimento não falo muito sobre o assunto.. só comento que essa mistura e o surgimento de cada uma separadamente foi ótimo.
Adorei conhecer essa geração Beat.
ChocOlöve, a verdade é que esse período reúne todos esses elementos, mas literatura, música, cinema, fotografia, moda, sexo e drogas, bem como outros elementos permeiam muitos movimentos anteriores à Geração Beat. Essa geração é estranha a muitos de nós, eu decidi postar essa matéria justamente por esse fator, para despertar a curiosidade da galera... tenho amigos que entendem muito mais sobre tal geração do que eu; conheço apenas algumas obras, um pouco da história do movimento, etc... eeeenfiiiim, como diria os beats, como Kerouac que exaltavam as vogais, estamos na mesma estrada... On the road!
ResponderExcluirAdorei sua iniciativa de ter postado no blog sobre tal assunto.
ResponderExcluirComo disse, muitos conhecem, mas, não sabem da onde surgiu.
Adorei a indicação tanto do blog como do que postou.
OBS: Era eu Dieinny a ChocOlöve, nem sabia que tinha um blog, tinha criado uns anos atras. Mas, pedi o link dele por não lembrar a senha..kkkkk
Agradeço-te por ter me comunicado seu blog, e continuarei sempre que possível lendo-o e comentando.